DO ÓDIO AO DESPREZO: O PROBLEMA DA CIÊNCIA
A história da ciência pode ser vista como a incessante busca do homem pela descoberta de como as coisas funcionam, almejando desfrutar de poder, de saúde física e mental e compreender o mundo que o cerca. De um modo geral, essas descobertas traziam mudanças, seja nas crenças ou nos hábitos precedentes. Não raro, os pioneiros cientistas, por contrariarem tradições, sofreram as mais variadas retaliações.
No limiar da Revolução Científica, era intensa a atividade de descobertas, assim como também a reação conservadora, fosse devido a ceticismos, ignorância, ou mesmo por contrariar dogmas ou interesses de um certo grupo.
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Isso já vinha de muito tempo. Os inovadores sempre pagaram um alto preço. Às vezes, até a própria morte. Tome-se como exemplo a triste história de Hipátia, uma grega de Alexandria, filha do diretor da biblioteca local, que viveu no século IV EC. É considerada por muitos como a primeira mulher matemática. Foi vítima de morte cruel, perseguida e trucidada na rua por fanáticos, enfurecidos ao ver uma mulher se dedicando a tais lavores.
A revolução na astronomia que se dá no final do período do Renascimento é um outro marco da Ciência. Falar dela é dar a ideia da grandeza de homens que, a olho nu, redefiniram uma visão milenar do Universo. Lembro que a astronomia, dentre outras funções, era muito útil na previsão dos ciclos de tempo e, portanto, fundamentais nas economias agrárias de então. Era também essencial na amarração das datas religiosas – daí a explicação do porquê alguns grandes astrônomos desse período serem também clérigos –, o que acabaria levando à mudança do calendário denominado Juliano, vigente desde a época de Júlio César, para o Gregoriano, usado até hoje. Tal mudança, porém, poderia ter se consagrado séculos antes, caso o ambiente não tivesse tantos preconceitos religiosos.
O grande filósofo Giordano Bruno, por exemplo, foi queimado vivo pela Inquisição, por defender o sistema heliocêntrico, enquanto Galileu Galilei, pelo mesmo motivo, foi condenado à prisão domiciliar até o fim de sua vida.
Hoje, quando uma pandemia nos faz reféns do progresso da ciência médica, é bom lembrar outros passos importantes dessa história. Os médicos foram os mais antigos cientistas a interagir com o público. Isso já ocorria entre os assírios, babilônios e egípcios. Na Grécia, igualmente. E não foram poucos os que perderam a vida por não conseguirem salvar a de um cliente poderoso. A situação permanece precária, com vários perdendo suas vidas na exposição à variedades de pandemias, enquanto a população demonstra um certo relaxamento na adoção de medidas preventivas, como se fossem caprichos divulgados pela classe médica.
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Refletindo sobre os exemplos anteriores, podemos apontar que o pensamento inovador, em qualquer campo, embora tenha seus apoiadores, sempre traz um certo incômodo e insegurança. Dependendo do tema de suas pesquisas, os proponentes de inovações científicas sabem que não devem esperar a melhor das receptividades às suas teorias, fato esse que pode ser observado ainda hoje como traço recorrente do conservadorismo, combinado com a ignorância e as visões dogmáticas. O ensino de ciências tem mais do que nunca de superar esse tipo de comportamento, dado que a humanidade enfrenta agora alterações muito mais rápidas nos modos de produzir, nos hábitos de consumo e na necessidade de abandonar crenças retrógradas.
O desafio de se atingir até 2050 um quadro de emissões de carbono iguais a zero, vai exigir, ao lado de ações governamentais e empresariais, um enorme comprometimento das populações, que precisam, desde já, serem conscientizadas para que se alinhem com as inovações que serão exigidas para o bem comum.
Cultura
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