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Dadá, a cachorra cangaceira no MST

Foto do escritor: Juliana WuJuliana Wu

Juliana Wu, MST

Gosto de compartilhar minha "rocidade" com vocês. Vêem está cadelinha lá embaixo? O nome dela é Dadá, a Cangaceira companheira de Corisco, do bando de Lampião. Como a Dadá, ela é mais braba que Maria Bonita, e quando eu falo isso, ela vem de longe, de onde estiver, abanando o rabo toda faceira com seus olhinhos pequenos e espertos e seu corpo pequeno, forte e magrelo. Nem me venham com comparações!


Ontem a noite, como em muitas noites, Dadá saiu pra caçar. Ela é a menor da matilha ( são dez cadelas) , mas é quem dá os sinais , os alertas. Ela levanta a orelha meia hora antes de todas as outras, começa a produzir sons e depois late pra anunciar tudo: gente, vaca, cavalo, moto, carro, caças, quando tudo está a quilômetros de distância. Ah! as caças! Dadá sobe até em árvores pra caçar: gambá, mico, rato, furão, ouriço...Sim, é verdade, ela sobe em árvores. Bem, ontem a noite eu ouvi quando ela deu o alerta de caça, os latidos são específicos pra cada situação. As caçadoras da matilha saíram em disparada. Minhas seguranças se mantiveram em guarda, mas produziam sons em apoio a caçada, é muito doida está minha matilha. Bem, depois disso dormi.


Sempre sei o desfecho da caçada pelas tragédias, e outrora alegria das manhãs. Espinho de ouriços por todo o corpo, olhos revirados e furados por mordida de capivara ( foi verdade, mas está é outra história), patas mancas, arranhões de cerca, uma infinidade de resquícios da caçada. Desde que moro aqui elas não trazem mais as caças pra mim, no primeiro assentamento que morei traziam. Conheci caças assim, elas me traziam e eu tinha que perguntar aos vizinhos que bicho eram. As vezes delícias.


Bom, esta manhã não foi diferente, acordei com um chororô de cachorro longe, eu achava que era longe. Não tenho os ouvidos nativos, né? Eles sabem o ângulo, a direção, o lugar, e até os motivos dos sons produzidos e propagados. Morro de inveja. Ah, os camponeses!! (E citadinos se acham superiores). Voltando, era um choro forte alto, sofrido. Primeiro achei que era um filhote que anda sumido, e resolvi seguir o som chamando, Neném?!! Peguei a foice e fui cortando o mato, até que o som parou. Eu pensei, será que morreu o bicho? Preferi acreditar que era cão da vizinhança, e que a situação estava resolvida. Mas me vinha: será que a jibóia engoliu? (Eu tive um cão engolido pela jibóia!) Como me punha em dúvidas de onde vinha o som, não achei que a roçada que fazia ia me levar ao lugar certo. Neste momento chegou um companheiro que veio ajudar com tarefas específicas e me distraí. Logo a seguir contei as cadelas: 1...9! Tá faltando? Quem?!! Dadá!! Caraca!! O choro era dela! O pensamento responde: Não, ela tá no Celso! Sai pelo lote chamando até o Celso, Dadaaaá! Ouço, num tá aqui não! Pânico! Era a Dadá que chorava! Caraca, morreu! Sai desesperada, gente cadê a Dadá, ela que tava chorando?!! Abre picada daqui, dali. Calma! Pensa! Disse ao amigo, acho que o som vinha na diagonal da casa. Resposta, sim, o choro que ouvia desde 1h da manhã vinha da mesma direção. E saio roçando, chego no mesmo caminho que seguia mais cedo. Que merda, por que não acreditei em mim?!! Continuo. Penso, morreu, não chora mais!


Eis que dou de cara com um buraco de tatu. Olho, abaixo, mas não tá revirado. A Dadá revira tudo. Sigo, duas foiçadas a frente um buraco de tatu todo revirado. Abaixo, olho e vejo um fucinho e a ponta dum rabo! Dadaaaaá!!! olho bem, ela pisca. Tá viva ainda! Como vc se dobrou assim? Sua bandida, Cangaceira!! Tá viva e agora vai ser parida da terra, juro que disse isso. Grito, achei!! Tá num buraco de tatu!! Já quase chorando, e cavando com a mão com cuidado pra não desbarrancar e sufocar. Os amigos chegam em segundos já com as ferramentas, avaliam, cavam. Ela já não tinha mais força pra chorar, gritar. Dadá!! Tu vai nascer de novo!! Ela começa a ajudar pra sair, ganhou forças!! Eu toda cheia de lama! Dadazinha, Caraca!! Pego ela no colo, é pura lama! Ôh, Dadá!! Como juntou o fucinho no rabo dentro de um buraco? Os amigos me olham. Depois banho, água e comida. Acho que ela tá doída. Prende ela que vai voltar lá! Limpinha, prendi. Tá viva!! A cangaceira é braba!

Obs: moramos numa APA, elas vivem livres, antes que me venham julgar. A natureza aqui desperta os instintos de qualquer cão. Não incito a caça, elas resguardam minha roça, caças destroem roças! Elas vivem livres, felizes. Agora tá aqui, cheirosa ao meu lado. Ainda sai lama dos olhos dela. Todas as minhas cadelas têm música, a de Dadá? Ôh, Corisco, Maria Bonita mandou me chamar!! Ela sabe e responde!!



Dadá, a cachorra gangaceira e Juliana Wu, do MST

 

MST capta R$ 17 milhões no mercado financeiro em 3 horas, em CRA,

uma operação de Crédito de Recebíveis.

 

Roda de Samba, no Youtube.



 

Música instrumental para relaxar, estudar e trabalhar, nesta playlist do Spotify.




Música Brasileira, no Youtube.



 

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