Correções e Reflexões
Minha amiga Kristina Michahelles, que é , sem dúvida, uma das maiores conhecedoras da vida e obra de Stefan Zweig, me escreveu apontando dois erros graves no meu artigo da semana passada, que procurarei reparar.
O primeiro é sobre o papel que Stefan Zweig desempenhou na Primeira Guerra Mundial, que em vez de enfermeiro, como apontei, foi de funcionário da intendência militar. Eu certamente enganado pela minha memória , ao lembrar do horror de Zweig quando narra, num dos seus textos, a visão terrível de trens carregados de soldados feridos e mutilados.
Como temos excelentes artistas que o grande público nao conhece, como Thiago Kobe
A segunda correção se refere ao livro Maria Antonieta, uma de suas biografias de maior sucesso que, contrariamente ao que eu escrevi, não foi escrita em francês ,nem tampouco em tempos de exílio, mas em alemão, pouco antes do início das perseguições aos judeus. Aqui também mais uma vez a memória me traiu, pois o que me lembrava é de algum comentário sobre a estranheza de Zweig, perceber na França, pouca literatura e agressiva em relação à austríaca. Ele empreende um notável trabalho de pesquisa e de alguma forma, como eu comentei, , a reabilita como mulher e como rainha.
Correções feitas, vamos às reflexões e o que me sugere este fato é a visão da história quando não dispomos das Kristinas. Episódios certamente ficam muito distorcidos e explicações sobre a sequência das coisas prejudicada. No caso do meu artigo isso se deu porque a referência a ser enfermeiro vinha da importância da exposição ao sofrimento alheio ter levado Zwig ao pacifismo, enquanto o livro sobre Maria Antonieta, à importância de se desconfiar sempre de histórias oficiais, cunhadas para sugerir algum tipo de atitude nas massas menos cultas.
Estamos tendo a oportunidade de ver isso em relação a alguns personagens da nossa independência.
O primeiro é D. Pedro I , na época um jovem de apenas 24 anos, impulsivo, com aquele sonho de grandeza e heroísmo de um Aquiles nos trópicos, alguém que sacrifica a vida pela glória, tanto aqui, nas nossas guerras de independência, motins de soldados e arruaças públicas , como depois fará na cidade do Porto, de resistência heróica às tropas absolutistas de D. Miguel.
Grande nomes de nossa Música Popular cantando Mario Lago é um deleite! Ouca!
Rei, constitucionalista, mas espertamente leitor das circunstâncias locais, reservando-se o Poder Moderador, poder por sinal muito prezado por alguns Founding Fathers americanos, que confere muita estabilidade à gestão do país então nascente.
Outro é D João VI, achincalhado como um glutão devorador de franguinhos ou um bonachão marido enganado, na realidade um sábio e esperto monarca, mandando mensagens dúbias para Napoleão, preservando sua dinastia, construindo uma visão de Império português com sede no Rio de Janeiro. Algo impensável naquela época de eurocentrismo. Com a grandeza de entender e reconhecer este Império quando nasceu, não mais como português, mas sempre um império governado pela secular Casa de Bragança.
O terceiro personagem que merece uma reflexão neste contexto é José Bonifácio. No dizer de Delfim Neto , este seria o maior economista que o Brasil já possuiu. Não é difícil entender o porquê. Era um homem com um projeto bem delineado para o Brasil. Moderno. Não escravocrata. Um homem formado em Coimbra na tradição do despotismo esclarecido de Pombal, mas como seus irmãos, um adepto do constitucionalismo inglês. Tão correto que foi a ele, que D Pedro I ao abdicar indicou a tutoria de seu filho, papél que o governo golpista de então impediu-o de exercer, até destitui-lo de fato.
Nossa História certamente teria sido outra , pois José Bonifácio, filho do Iluminismo, teria educado Pedro II na gestão administrativa e nas matemáticas. Nas ciências naturais em vez de conhecer o aramaico. Nos benefícios da instrução generalizada em vez da submissão ao coronelismo político mais atrasado que poucos anos após o início do reinado de Pedro II o levou para o governo conservador, da fazendeira, impedindo que seus dotes pessoais de cultura e interesse científico fluíssem para o conjunto do país.
Que lições de vida, nessa Live
Nesse ano de eleições mais uma vez se nos apresenta a possibilidade de mudar as coisas. Hoje ainda através de candidatos que disputam o terceiro lugar na preferência popular, Os dois primeiros, polarizadíssimos, como de praxe desde a Roma Antiga, representam os plebeus e os patrícios , sem deixar de ser ambos como os Césares, autoritários e patrimonialistas. Enfim, temos pouco mais de um mês pela frente para saber se vamos retrocesso de uns 2.000 anos ou se teremos alguma esperança de nos libertar de umas tantas amarras.
Mais que nunca, é preciso cantar
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