Consegui!
Meus pais estavam recém separados. Só faziam brigar naquele quarto de hospital. Eu tinha 19 anos, e os dois tinham ido me levar para uma cirurgia de amigdalas. Mas desde que saímos de casa, foram se agredindo verbalmente dentro do carro, e até mesmo dentro do quarto que me foi destinado no hospital, não davam trégua nem a si mesmos e nem a mim.
Eu achava os argumentos deles totalmente absurdos, e tentava inserir algum bom senso naquela troca verbal irritante e hostil. Na minha inexperiência, não sabia que, frequentemente, casais querem mais é ferir um ao outro, a despeito de qualquer bom senso. Não me lembro exatamente o que falavam, mas as palavras com que eu queria interferir me pareciam urgentes. Na verdade, eu preferia que nenhum deles estivesse por perto. Gostaria mais de mandá-los embora como tinha feito dias antes, quando eles já brigavam, e o mesmo médico que ia agora me operar teve que cortar dois abcessos na minha garganta a sangue frio, já que nem anestesia e nem antibiótico chegariam onde deviam chegar através daquela infecção.
Estávamos no consultório, que o médico abriu `as pressas naquele domingo, ao ouvir pelo telefone que eu nem conseguia respirar direito. Sentou-me numa cadeira tipo de dentista, e me mandou abrir a boca, o que só consegui fazer o suficiente para que um canudo pudesse entrar. Ele então, com um jeito carinhoso, porém determinado, falou “mais um pouquinho meu amor”, e forçou meu maxilar pra baixo. Achei que a dor fora horrível, mas estava longe de imaginar a que viria pela frente, quando ele enfiou algum instrumento até a minha goela e cortou um dos abcessos. A dor foi tão aguda quanto traiçoeira serpenteando pela minha garganta e me dilacerando quando eu menos esperava. Comecei a chorar, e o médico imediatamente me apresentou uma vasilha em que cuspi enorme quantidade de pus.
“Agora o outro lado!” ele ordenou.
Nossa! Difícil dizer se a dor é pior quando nos pega desprevenidos ou quando nos preparamos pra enfrentá-la. Mas foi ela que me deu a coragem do desespero pra gritar pro médico tirar meus pais dali, quando me botaram numa espécie de maca ali do lado pra me refazer. Lembro-me da expressão chocada que papai e mamãe fizeram, olhando pra mim como se eu tivesse enlouquecido.
Foi aquele mesmo médico que marcou pra mim uma operação de amigdalas uns dias mais tarde, quando a infecção estivesse curada, dali pra frente, com antibióticos. Por isso me encontrava agora no hospital, continuando a assistir a briga crônica de meus pais, mas sem a audácia ou o desespero suficiente para mandá-los embora. Preparava-me para despejar uma chuva de palavras “idôneas” sobre eles, quando uma enfermeira entrou no quarto e veio diretamente pra perto de mim. Desde a sua entrada, até os minutos que levou me dando uma injeção na veia, o silencio finalmente reinou no quarto. Quando ela retirou a agulha, e eu ainda pensava que diria o que tinha em mente para papai e mamãe assim que ela saísse do quarto, uma onda de libertação e absoluto bem-estar tomou conta de mim.
Nos segundos que precederam a minha total inconsciência, meus pais e seus problemas apareceram como a coisa mais insignificante do mundo. Não só eles, como quaisquer preocupações, autocobranças e deveres, se tornaram totalmente ilusórios. Senti-me no amor de Deus, e o mundo inteiro desapareceu. Que aquele estado era divino não precisava de nenhuma prova diante da evidência de sua felicidade. Como podia existir uma substância de tal nirvana e redenção? Como podia fazer tudo aparecer pequeno, contingente, e até mesquinho? Seria assim que nos sentimos quando a morte nos liberta do corpo? Foram as perguntas que nunca me deixaram, depois que me apaixonei pela anestesia geral, pelo lembrete tão poderoso da presença de Deus.
Através dos anos, perguntando a uns e outros, percebi que a maioria das pessoas nem se dá conta desse barato e adormece antes de curtir a passagem pra eternidade. Eternidade sim, pois que somos arrancados da finitude do tempo e do espaço!
Tive sorte de não saber nada sobre a existência de narcóticos na minha adolescência alcóolatra. Também tive sorte, por bem mais tarde, já viciada nos que podia mandar vir de farmácias ilegais da India aqui para os Estados Unidos, ter encontrado ayahuasca e me curado desse vicio. Mas até aí, eu abusava de diferentes tipos de pílulas, “uppers and “downers”, pra amortecer uma dor tão vaga quanto pungente na minha alma. Claro que ainda a sinto, mas tenho outros meios de aguentar olhar seu rosto.
Ayahuasca me mostrou que essa dor é a saudade de Deus. Por isso Huxley, sob o efeito da mescalina, além de declarar ter a substância lhe dado “uma visão sacramental da realidade”, disse também que todos nós precisamos de férias de nós mesmos: “We all need a holiday from ourselves”, no original. São essas “férias” que nos trazem a lembrança da presença divina.
Uma vez, num ritual há anos atras, uma amiga minha de escola que é maníaca de saúde, veio me dizer que eu não parecia ter mais que vinte anos, e aquilo só podia ser milagre. Eu e ela estávamos com quase sessenta.
“E sempre tomei remédios, me tratei super mal” contei.
“Então continua tomando porque em você eles dão certo!”
Pensei muito sobre aquilo, e cheguei `a conclusão de que se os remédios e drogas não me destruíram deve ter sido porque sempre os curti religiosamente e eles funcionaram como preces.
Meu marido me dizia que eu ia pra cirurgia como quem ia pra uma festa, e ele estava quase certo, pois eu ia pra uma ocasião bem melhor do que qualquer festa, mesmo que cronologicamente durasse muito menos: A eternidade não tem medida, essa é a verdade.
Lembrei-me de tudo isso porque estou perto de uma cirurgia pra retirar implantes de silicone dos seios. Um deles começou a vazar, e os médicos aqui disseram que era bom não esperar muito, embora o caso não fosse de urgência absoluta. Mas se trata de uma operação bem mais difícil do que a de colocar os implantes, porque eles têm que retirar a tal capsula que o corpo faz em volta destes, e `as vezes não conseguem remover tudo porque elas podem ter grudado no tórax. Quando a gente se apaixona pela estética, não pensa no futuro.
Outra ressalva que eu tenho diz respeito `a própria anestesia. Fico pensando que ayahuasca me curou dos narcóticos porque me fez parar de sentir o barato que eles causam. Quando uma vez eu tive que tomá-los por ordem medica, já tendo largado o vicio e me aprofundado no ayahuasca, só senti o lado toxico deles. Então, fico com receio que o mesmo aconteça com a anestesia. Espero que não, mas se for o caso, eu penso em ayahuasca, em Deus, e digo: “Thy Will be Done”.
Afinal, consegui, com a ajuda de ambos, deixar de ser “a drug head”!
A ciência e a tecnologia desempenham um papel crucial no impulso da indústria criativa, musical e cultural, facilitando a produção, distribuição e certificação de obras.
A Cedro Rosa Digital exemplifica esse impacto ao certificar e distribuir obras musicais globalmente, fortalecendo a presença de músicos independentes no cenário internacional.
A plataforma utiliza avançadas tecnologias de gerenciamento de direitos autorais, garantindo a proteção e remuneração justa aos artistas. Com algoritmos de reconhecimento de conteúdo, a Cedro Rosa Digital assegura a autenticidade das obras, combatendo a pirataria e proporcionando transparência aos envolvidos.
A distribuição global da Cedro Rosa Digital amplia o alcance das criações musicais independentes, conectando artistas a um público diversificado. Ao simplificar o processo de certificação e distribuição, a plataforma contribui para a valorização e monetização eficiente do trabalho artístico, possibilitando que músicos independentes gerem renda de forma sustentável.
A convergência entre ciência, tecnologia e indústria criativa, evidenciada pela Cedro Rosa Digital, ressalta a importância de soluções inovadoras para impulsionar e fortalecer a diversidade cultural no cenário musical global.
Comments