"Como é bom a gente ser querido ...", como foi a vaquinha do Bip Bip?
Artigo de Chiquinho Genu e Tiago Prata, para CRIATIVOS / Cr Zine.
Foto na filmagem do longa-metragem Partideiros, na Cedro Rosa
Nosso carinhoso amigo Tuninho Galante nos pede um relato, em forma de artigo, sobre a campanha de financiamento para, durante a pandemia, manter vivo o Bip Bip, o botequim de Copacabana famoso, entre tantas e tantas coisas, pela música e pelas múltiplas e curiosas facetas de seu proprietário, Alfredinho, falecido há ano e meio.
É bom começar pelo começo. Fato número um: o Bip Bip está obrigado a fechar suas portas durante este período de enfrentamento da Covid-19. Fato número dois: há uma clara necessidade de dinheiro para pagar seu custo fixo durante todos esses meses em que o boteco permanecer sem funcionar: luz, condomínio, coisas assim.
Nestes gastos, inclua-se também uma série de projetos sociais: cestas básicas para moradores do Pavão-Cantagalo, Médicos sem Fronteiras etc. Sobre este último assunto, vale esclarecer que não são extras supérfluos, que se poderia parar de pagar na primeira necessidade. Temos certeza de que o Alfredo morreria pela segunda vez, se nós descuidássemos da ajuda a nossos irmãos mais carentes.
Some-se a isso dois assuntos básicos. O Bip Bip não abre mão de atribuir total responsabilidade à saúde e à vida de seus clientes e amigos. E, de um lado, se isso é ponto que não se discute, de outro, surge uma dificuldade séria a considerar.
O espaço mínimo, a inevitável aglomeração provocada pelas rodas de samba, o trânsito de clientes em seu interior são, todas elas, características que farão exigir a continuidade do fechamento do boteco mesmo bem depois que o último bar já tiver retornado às suas atividades normais. Fazer o quê, não é?
Com estas variáveis postas à mesa, o Bip Bip decidiu criar uma campanha de financiamento na Internet, a popular vaquinha, para poder pagar suas contas.
Umas sominhas daqui e dali nos permitiram chegar a um valor bruto de 68 mil reais para manter o Bip Bip em dia com seus compromissos financeiros por uns 5 meses.
A campanha durou dois meses, exatamente de 7 de junho a 7 de agosto de 2019 e teve pleno sucesso. A página do Catarse (catarse.me/salveobip), aplicativo da Internet que selecionamos para dar suporte à campanha, nos mostra de imediato o apelo de Chico Buarque. O depoimento deste gigante da nacionalidade já deixa claro como a possibilidade de o Bip Bip vir a enfrentar dificuldades sensibilizou a sociedade e, em particular, seus amigos.
( Chico Buarque foi um dos artistas que participaram da campanha de arrecadação)
Voltando à página do Catarse, lá constam dados fundamentais. Vejam só:
- meta: 68 mil reais;
- arrecadado: 83.543 reais (22% acima da meta, portanto);
- total de contribuições: 793.
Embora com a campanha já encerrada, o Catarse ainda nos permite ver um bom número de recompensas com as quais retribuímos àqueles que nos honraram com suas contribuições. Para tanto, amigos se movimentaram das mais diversas formas, doando seus trabalhos, seus talentos, seus objetos raros e tudo mais. Seguem alguns exemplos:
- CD com gravações raras de Mario Lago, doados por seus filhos, Graça e Mariozinho Lago;
- mapas-múndi estilo colonial, doados pelo Samurai;
- cartazes de show beneficente para Wilson Moreira, capitaneado pelo Bip Bip, na década de 90, doados pelo produtor musical Paulo Figueiredo.
- petiscos e bebidas, doados por bares amigos (Bar Madrid, Casa Porto, Bar Adonis);
- cartazes com motivações políticas, doados pelo Paulinho Cartaz.
- composições de partidos-altos para os agraciados, pela talentosa Manu da Cuíca;
- roda de samba na casa dos agraciados, propiciada pelos músicos da roda do Bip.
Isso sem nos alongar nos depoimentos gravados, cheios de carinho e emoção, de gente como os irmãos Buarque de Holanda (Ana, Cristina e Chico), Milton Nascimento, João Bosco, Bete Mendes.
Alguém poderá perguntar o que faremos se a epidemia recrudescer, se não for possível abrir o bar em 5 meses e o dinheiro voltar a acabar. Não nos acanharemos, tornaremos a fazer outra campanha. Aliás, tantas quantas necessárias. E temos certeza de que você não se furtará de ajudar. O Bip Bip não pode acabar.
Um dado que nos tocou profundamente nesta cruzada em prol do nosso botequim foram as quase 800 contribuições. Ainda que saibamos que alguns colaboraram mais de uma vez, sentimo-nos autorizados a dizer que mais de 500 pessoas mexeram no bolso, o órgão mais sensível do corpo, para ajudar o botequim, em média com 105 reais. Isso nos deu uma dimensão numérica de como, ao longo de seus 52 anos, o Bip Bip se tornou importante na vida da cidade, um marco de preservação da cultura. Ou não é verdade?
Não podemos nos esquecer também de dizer que o Bip Bip está fechado sim, mas apenas na Rua Almirante Gonçalves, seu endereço em Copacabana.
Na Internet, nosso botequim está ativo como nunca esteve no passado. No Instagram, endereço @rodadobip, ou no Facebook, endereço / barbipbip, e sempre a partir das 21 horas, você poderá assistir às nossas rodas de samba (quinta-feira) e choro (segunda-feira). Foi a forma, bem sucedida, diga-se, que encontramos de rever e confraternizar com os amigos, bem como permanecer na intransigente defesa da boa música brasileira. Dê uma passadinha por lá, você vai gostar.
Nada mais justo, portanto, que encerremos este artigo com os versos iniciais de uma canção de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, sempre cantada no nosso botequim:
“Como é bom a gente ser amigo, como é bom a gente ser querido ....”.
Chiquinho Genu e Tiago Prata
O Bip Bip e seu principal personagem, Alfredo Melo fazem parte da historia contemporanea do Rio de Janeiro.
Nao existe um músico de samba e choro que nos ultimos 30 anos nao tenha dado uma canja naquele gigante de 12 metros quadrados, na Rua Almirante Gonçalves, 50, em Copacabana.
A Cedro Rosa, com a ajuda dos produtores Tuninho Galante, Paulao 7 Cordas, Paulinho Figueiredo e Monica Alvares produziu um CD com os amigos do Bip para conseguir fundos das obras sociais. Participaram nomes como Aldir Blanc, Nelson Sargento, Walter Alfaiate, Wilson Moreira, Cristina, Didu Nogueira, Paulo Cesar Feital, Elton Medeiros, Pedro Paulo Malta, Moacyr Luz, Paulinho do Cavaco, Ernesto Pires, Nilze Carvalho, Renatinho Partideiro e Marquinho China e Tereza Cristina.
O disco está nas principais plataformas de streaming.
Escute.
A partir de R$ 25.
A Cedro Rosa produtora e distribuidora de conteúdos, com sedes no Rio de Janeiro, New York e Tokyo.
Sua plataforma digital funciona em 10 idiomas no mundo inteiro e conta com mais de 3 000 mil certificadas, prontas para serem licenciadas para sincronizações diversas em filmes, novelas, audiovisuais, games e publicidades.
Abra um perfil na Cedro Rosa e acompanhe nossas redes digitais. https://linktr.ee/cedrorosa
Compositores, bandas e artistas podem registrar suas musicas e fazer contratos de distribuição e licenciamento e empresas da midia como TVs, Radios, produtoras de cinema e conteudo em geral podem licenciar essas obras devidamente certificadas diretamente na plataforma.
Criativos! é uma revista digital de Arte, Cultura e Economia Criativa e conta com a colaboração de centenas de artistas, criadores, jornalistas e pensadores da realidade brasileira.
Editado pela Cedro Rosa.
Comments