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Foto do escritorBrenno Mascarenhas

Campeã invisível

Brenno Mascarenhas, para CRIATIVOS!

Do alto de sua privilegiada estatura de 1,80m, a negra norte- americana Ora Mae Washington, foi uma tenista excepcional, talvez a melhor do seu tempo, pelo que se viu do seu jogo, e, em especial, dos oito títulos nacionais de simples que conquistou entre 1929 e 1937 nos limites da ATA (American Tennis Association).

Mais ou menos na mesma época em que Ora Mae Washington dominava a concorrência nos torneios da ATA, o mundo do tênis se encantava com uma outra americana, Helen Wills, branca, oito vezes campeã de Wimblendon, a última em 1938, seis vezes campeã do que é hoje o Aberto dos Estados Unidos, e quatro vezes campeã de Roland Garros. Bob Ryland, contemporâneo de Ora, primeiro negro a se profissionalizar como tenista, falou uma vez que ela “ficava muito chateada por nunca ter podido jogar contra as melhores tenistas brancas... ela ouvia contarem sobre tenistas brancas vencendo em Wimblendon e nos outros grand slams e dizia que poderia derrota- las”.

Era preciso que Ora Mae Washington e Helen Wills se encontrassem numa quadra de tênis, para se que se soubesse a força de cada uma. O mais provável, entretanto, é que isso não acontecesse. E, de fato, nunca aconteceu. Wills se movia nos ambientes mais exclusivos dos Estados Unidos e da Europa, era amiga e parceira de tênis do Rei Gustavo V, da Suécia, inspirou mural do artista mexicano Diego Rivera, e frequentava a Riviera Francesa e seus clubes e hotéis mais elegantes. Enquanto isso, Ora, entre um compromisso tenístico e outro, ganhava a vida como empregada doméstica, na sua Filadélfia, muito distante dos torneios que conduziam ao reconhecimento internacional.

Mas as dificuldades não eram apenas de cunho econômico e social. Havia o dramático e intransponível obstáculo institucional: até a década de 1950 a USTA (United States Tennis Association) proibia negros de participar de seus campeonatos e, em consequência, fechava para eles as portas para os mais importantes torneios do , a começar por Wimblendon e Roland Garros. Dessa forma, Ora estava irremediavelmente confinada à ATA, “all-black” (como os americanos costumam dizer), entidade que nesse sinistro contexto de exclusão se incumbiu a partir de 1916 de organizar o tênis para afro- descendentes nos Estados Unidos.

Além da formidável carreira esportiva, tão formidável quanto as circunstâncias permitiram, Ora Mae Washington deu sua cota de contribuição para o aparecimento dos melhores tenistas negros que a sucederam, Althea Gibson na década de 1950, Arthur Ashe um pouco depois, Zina Garrison, James Blake e agora as campeoníssimas irmãs Venus e Serena Williams, esta última, com seus 23 títulos de simples em torneios de grand slam, a maior tenista de todos os tempos. Também certamente, ela concorreu para a transformação verificada na USTA, que em 2015 passou a ser presidida pela ex-tenista profissional Katrina Adams, negra, e cujos principais estádios no Complexo de Flushing Meadows, onde se disputa o US Open, homenageiam o referido Arthur Ashe e o também negro Louis Armstrong, a estrela do jazz.

Contudo, muito pouco se escreveu sobre Ora Washington, que sequer é citada nas bíblias europeia e norte-americana do tênis, a “The ultimate tennis book”, de Gianni Clerici, e a “History of tennis”, de Bud Collins. Com efeito, fora de alguns círculos restritos, ela permanece quase que completamente desconhecida.

Em 1975, afinal, Ora foi merecidamente indicada para o “Black Athletes Hall of Fame” dos Estados Unidos. Da maneira usual, por carta, a grande tenista foi convidada para a solenidade em que seria homenageada. Mas não compareceu. Falecera quatro anos antes, e os responsáveis pela organização do evento não sabiam.

 

Brenno Mascarenhas é cronista, mestre em Direito Constitucional e Juiz de Direito aposentado.

Joga tênis desde 1966.

 

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