“CAIU !!! Primeiro de Abril !!!” rsrsrsrsrrs
“CAIU !!! Primeiro de Abril !!!” rsrsrsrsrrs
Carlos Alberto Afonso TOCA
No 1º de Abril de 2004, nós gravamos as Mãos de Chico Buarque para o cinquentenário Monumento à Produção, nossa Calçada da Fama de Ipanema, onde, literalmente, as mãos-na-massa interagem por seus portadores como, por exemplo, Oscar Niemeyer, Ferreira Gullar, Luis Inácio da Silva Lula, Aldir Blanc, Carlos Lyra, Braguinha, Toquinho, Vinicius de Moraes, Wagner Tiso, Victor Biglione, Roberto Menescal, Haroldo Costa, Os Cariocas, Quarteto em Cy, Os Mutantes, Oscar Castro Neves, Johnny Alf, Chico Alencar, Cesar Maia, Benedita da Silva, João Bosco, Maria Estela Kubitschek Lopes, André Midani, Cartunista Lan, Cesar Villela, Maria Lucia Godoy, Milton Nascimento, Ruth de Souza, Nelson Sargento, Pixinguinha, Grande Otelo, Paulo Gracindo, Tonia Carrero, Maria Bethânia, Moysés Fucks, Miss Martha Rocha, Francisco Horta Cavalcanti, Hideraldo Luis Bellini, ‘Enciclopédia’ Nilton Santos, Jairzinho Furacão da Copa, Zico, Roberto Dinamite, Zezé Motta, Pery Ribeiro, Luis Carlos Miéle, Toots Thielemans, Pierre Barouh, George Moustaki, Artur da Távola, Henri Salvador, Miltinho, Helena de Lima, Jorge Goulart, Hélcio Millito, Grande Otelo, Otávio Bailly, Sérgio Cabral, Maria Vasco, João Donato, Flávio Ramos, Wanda Sá, Helô Pinheiro, Juca Chaves, Chacrinha, Elisete Cardoso, Elis Regina , Moacyr Luz, Billy Blanco, Paulinho Tapajós, Carlos Leonam e muitos outros nomes representativos de nossos segmentos de PRODUÇÃO (Trabalho).
Logo pela manhã, rumei para o famoso campo de futebol – que não era 1. Eram 2 – do Chico, lá no Recreio. Fui munido de neto e cimenteiro. Com apenas 4 anos, o setembrino Vinicius (nome com que minha filha me homenageou) não largava mão do avô. E vice-versa. E quanto ao meu amigo José - já fazia um tempinho – não me deixava na mão sem registrá-las. E as placas de cimento do acervo, que eram apenas 18 – quando as adquirimos... ali estávamos nós - para a gravação do 34º registro. Hoje são 126.
Chegamos antes do amado anfitrião, que não tardou a – como uma flexa - entrar em campo e deixar a bola rolar, enquanto nós, a margem, preparávamos a caixa com o cimento, até chegar a hora de nosso craque pedir uma substituição e vir até onde estávamos para dar descanso aos pés, pondo a trabalhar as mãos. – “QUE MOMENTO !!!” – diziam e sorriam um para o outro, minha cabeça e meu coração.
Cerca de uns vinte minutos passados, José fez o sinal de costume. Estava consumado. E – como de costume, também – eu proclamei, ali, para nós quatro, como sempre fazia na Calçada da TOCA, para quatrocentos, quinhentos, etc : “HABEMUS PLACA !!!” : a gaiatice da felicidade. E foi aí que aconteceu a grande surpresa do dia (e uma das maiores de meus quase 72 anos) : nosso anfitrião me corrigiu no tempo do reflexo condicionado : - “PLACAM !!!”, disse-nos ele curto-firme-e-doce. O Professor, aquela altura, professor... de Letras... que desde o ginasial, nos Maristas, até o Clássico, no Lafayette, foi um verdadeiro “CDF” – à época, habitual e popular certificado de mérito – caiu, no ato, em estado de perplexidade do qual jamais se recuperou inteiramente.
Por uma possível queda-de-ficha, nosso amado Chico, em fração de segundos, face minha surpresa, dirigiu-se a este visitante, com voz-e-expressão-facial-geral quase que suplicante, explicando-consolando, sua precisa intervenção : - “... É acusativo...”. Ao que eu, espantado, acolhi : “Claro, Chico : ACUSATIVO”, que, para quem não lembra é um dos 6 casos com que, no Latim, didaticamente, distribuímos as funções sintáticas na estrutura de uma frase. E cabe ao convencionalmente chamado “objeto direto” o correspondente “acusativo”, como seria “dativo, o objeto indireto”, “nominativo, o sujeito ou o predicativo” e, por aí, sucessivamente. Assim sendo – E É !!! – em “TEMOS PAPA” – o parâmetro da minha brincadeira – a função sintática da palavra PAPA é objeto direto, que por ter tal função, passa a ter terminação específica e fica sendo : “PAPAM”, bem como, no presente (já passado rsrsrsr) caso, o correto, no Latim, será : “HABEMUS PAPAM”, exatamente, como advertiu Chico Buarque.
Naquela situação, apesar de seu perfil sereno e imperturbável, eu temi que nosso amado anfitrião tivesse alguma suspeita de me ter constrangido – levemente que fosse. Diante de quê – pelo sim, pelo não, eu me apressei em dizer-lhe com agradecida clareza : “ CHICO, MEU ESTADO DE PERPLEXIDADE NÃO SE PRENDE AO FATO DE EU TER SIDO CORRIGIDO. CREIA ! FIQUEI – E CONTINUO – PERPLEXO PORQUE ACHO QUE ACABO DE TESTEMUNHAR UM SINTOMA DE QUE VOCÊ NÃO É NORMAL “ – Chico deu uma rara gargalhada, voltou ao seu natural estado de disposição e pré-disposição ao sorriso e, com um riso quicado, ele me perguntou : - “ Eu não sou normal ? rsrsrsrsrsrsr Mas por que você diz isso ? “ E eu tive a oportunidade de explicar uma avaliação imediatista e desautorizada, embora acolhida com a mesma permanente amabilidade : “ CHICO, A CORREÇÃO QUE VOCÊ FEZ, poderia ter sido feita por outras pessoas com igual conhecimento que eu mesmo tenho, embora não estivesse livre de escorregar. Portanto, a capacidade de corrigir está absolutamente dentro da normalidade. Mas... mas.... mas... você não corrigiu como faria algum conhecedor. Você foi bem acima e além, corrigindo e... ressuscitando Pavlov : reflexo condicionado ! Coisa de quem pratica. E convenhamos, Chico, NINGUÉM FALA MAIS LATIM HÁ MUUUUUUITO TEMPO, CHICO. E VOCÊ SABE DISSO. Pois hoje eu vou sair daqui de seu campo de futebol com 2 troféus : o que vim buscar – a placa com suas mãos. E o que ganhei de presente pelo demérito de meu erro (veja só). AGORA, além de saber de sua incrível OBRA, eu sei, também QUE VOCÊ FALA LATIM. Ainda que fosse um raro ser humano a falar LATIM.”
Não foi, portanto, necessário mais do que um pedacinho de manhã daquele PRIMEIRO DE ABRIL para que a FELICIDADE DAQUELA EXPERIÊNCIA DESAUTORIZASSE DEFINITIVAMENTE O ANTIGO MITO QUE A DATA TEM CARREGADO CONSIGO, pois, no fundo, no fundo, cá entre nós : HÁ VERDADES QUE PARECEM MENTIRAS.... MAS NÃO SÃO !!!
Obrigado sempre e por tudo, Chico Buarque !
Carlos Alberto Afonso TOCA.
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