top of page
criativos 2022.png

Café com Pão

Atualizado: 24 de set. de 2024



O Carlinhos e a Lavínia esbarraram-se no supermercado. Ela passava pelos cafés, só de passagem mesmo, porque no final daquela alameda começava a seção de pães.


Ela precisava de um multigrãos indicado por uma amiga e que vinha fazendo efeito contra a sua histórica má digestão.


Ele, o Carlinhos, cujo estômago não tinha qualquer problema diagnosticado, tava ali, acocorado, procurando uma caixa de cápsulas de café espresso anunciada por um preço bem menor que o da concorrência, mas que parecia já ter sido encontrada pela multidão de viciados em cafeína que ronda as ofertas desse tipo.


Encontrou uma última caixa, meio amassada, esquecida entre caixas de outras marcas, e se preparava pra levantar, já com os joelhos - esses sim - reclamando da incômoda posição mantida por infindáveis minutos.


E foi naquele pequeno momento de desequilíbrio entre a posição de cócoras e a de pé, quando o corpo está se ajeitando pra assumir uma postura definitiva depois de ter permanecido em posição provisória e desconfortável, os músculos se reorganizando, a circulação das pernas retomando o seu curso normal, foi naquele átimo que houve o choque.


A velocidade da Lavínia, claramente um pouco acima do esperado naquela via, ainda que o código de trânsito não tenha incidência sobre a circulação ali, foi determinante pra que o choque tivesse a intensidade observada.


O Carlinhos, que ainda se movia na vertical, rumo à posição bípede natural que normalmente usamos pra caminhar, foi atingido lateralmente com relativa violência, desequilibrou-se e, como trazia uma das mãos bem próxima à prateleira de cafés, no movimento de queda levou junto dezenas de caixas de cápsulas, que atingiram também o chão com certa violência, resultando na abertura de algumas, com o consequente espalhar de cápsulas por um raio bem maior que o da ocorrência em si.


A Lavínia, que no momento tinha a atenção fixada no pão milagroso, que vinha fazendo dela uma nova mulher, mais confiante e menos incomodada com o estômago sensível, não caiu, mas foi subitamente despertada do transe alimentício que a movia rumo às prateleiras de pães. O choque fez com que seus óculos voassem. Por sorte tinha trocado, havia bem pouco tempo, suas lentes de cristal por lentes de resina, na medida em que a miopia avançava e as lentes iam ficando mais grossas e mais pesadas. As lentes de resina resistem bem às quedas. A cirurgia estavamarcada, inclusive, pra dali a uns poucos dias.


Ambos demoraram um pouco para entender o que estava acontecendo. Lavínia, atordoada pelo choque, sem os óculos e sem saber quem tinha atingido, deu um giro de 180° e viu, embaçado, o homem caído entre as cápsulas, como se fosse um despacho a algum orixá que tome café.Apressou-se em tentar ajudar, estendeu a mão pra que ele se levantasse.


O Carlinhos não foi exatamente receptivo. Retesou os músculos da face, de um jeito que suaexpressão, normalmente tranquila, transformou-se nummisto de raiva e dor.

- A senhora não olha por onde anda?

A Lavínia teria a resposta completa.


Estava focada, mirando o objetivo final, um pão milagroso, etc, etc, e não percebeu o homem que estava em sua frente, abaixo da linha dos olhos. Incomodou-se ao ser chamada de senhora. Não respondeu. Ele agora era um vulto disforme, que era o que Lavínia conseguia ver sem os óculos, que tinham ido parar em baixo das prateleiras de leite em pó.


Uma pequena e atenta assistência começou a se formar. Naquele horário o mercado estava relativamente vazio. Mais ainda considerando as dimensões do estabelecimento. Tratava-se de um mercado enorme, acomodado no pavimento térreo de um edifício igualmente gigantesco, no meio de um bairro superpopuloso.


Não houve testemunhas, mas a incipiente discussão entre uma moça que buscava os óculos e um homem que esbravejava ainda sentado no chão em meio a cápsulas de café esparradas parecia interessante. Houve quem sacasse o celular.


Com esforço, e já incomodado com o público que começava a se aglomerar, o Carlinhos se levantou. Tinha visto, do chão, os óculos da Lavínia. Ainda com raiva, mas solícito, pegou e devolveu a ela. Àquela altura, a expressão de raiva já tinha desaparecido, de modo que a Lavínia nem sequer a viu.


Mas o que ela viu despertou interesse. Além – e apesar - da voz empostada, que tinha reclamado seriamente com ela, ele tinha outros atributos e uma expressão firme e serena que eram o que Lavínia mais procurava em seus eventuais parceiros. Beleza, masculinidade viril ou porte atlético não exerciam sobre ela nenhum efeito, mas expressão firme com serenidade a faziam derreter.


O Carlinhos, por sua vez, ao ver a moça recomposta, com os óculos e já menos atordoada, sentiualguma coisa que não conseguiu entender imediatamente. Passaram a trocar desculpas. Ela falou do pão e do aperto no horário, que a fizeram andar com pressa onde deveria ter mais atenção. Ele disse que também estava distraído e que não deveria estar no caminho, num local onde pessoas circulavam com foco nos produtos e não necessariamente no trânsito, como numa estrada. Sentiu que forçava uma aproximação e se envergonhou um pouco.


Restava o prejuízo com a abertura de dezenas de caixas de cápsulas de café. Entreolharam-se, riram e combinaram dividir o custo, depois uma rápida checagem no Carlinhos pra identificar eventuais pontos de dor. Não havia. Tudo bem.

Os curiosos se dispersaram. Lavínia foi pegar o pão. Não era uma viciada em cafeína. Tomava café moderadamente e aceitou o convite pra uma xícara no apartamento do Carlinhos. Ele era professor universitário, ela descobriu. Ela se revelou psicóloga. Ela levaria o pão. Ele preparou ocafé e o cenário.


Parece que deu tudo certo.


Carlinhos foi visto recentemente no mercado, meses depois do ocorrido, comprando o mesmo pão da Lavínia.


Café ele ainda tem no estoque.

Ele tem comido mais pão de grãos.

Ela tem tomado mais café.

Estão juntos, mas combinaram de não ir mais simultaneamente ao mercado.

Melhor reduzir o risco de eventos imprevistos...

 

Rio de Janeiro, setembro de 2024.

 


 

Faz a Diferenca

Projeto Contra Fome ganha Prêmio Internacional de Bill Gates


 

Cedro Rosa Digital e CERTIFICA SOM: Promovendo Diversidade e Equidade

A Cedro Rosa Digital destaca-se como uma plataforma que conecta artistas e criadores de cinco continentes. Fundada por Antonio Galante, a empresa inova ao certificar e distribuir músicas, obras e gravações, garantindo a autores independentes os royalties e direitos autorais de forma justa e eficiente.


Um dos pilares desse trabalho é o projeto CERTIFICA SOM, que tem como objetivo oferecer dados precisos sobre músicas, compositores, intérpretes e fichas técnicas, assegurando que todos os envolvidos sejam devidamente creditados e recebam seus direitos autorais internacionalmente.


O CERTIFICA SOM é uma ferramenta inovadora que utiliza tecnologia blockchain e inteligência artificial para a certificação de obras musicais. A ideia é não apenas assegurar a originalidade e os créditos devidos, mas também criar um sistema mais transparente e inclusivo, onde artistas de diferentes partes do mundo, inclusive de países em desenvolvimento, possam ter sua música distribuída e reconhecida globalmente.




Além do CERTIFICA SOM, a Cedro Rosa Digital investe em produções audiovisuais, como filmes e séries que celebram a diversidade musical e cultural do Brasil. Um exemplo é o filme '+40 Anos do Clube do Samba', uma coprodução com a TV Cultura de São Paulo, que gera empregos e renda para diversos profissionais do setor audiovisual, além de promover a rica história do samba.

O Portal CRIATIVOS!: Reflexão e Inovação Cultural


Outro destaque das atividades da Cedro Rosa é o portal CRIATIVOS!, que, por quatro anos consecutivos, reúne artistas, intelectuais, jornalistas e a comunidade da cultura, ciência e economia criativa para debater ideias e compartilhar inovações. O portal é uma verdadeira plataforma de ideias, onde se discutem temas que vão desde a sustentabilidade na arte até o impacto das novas tecnologias na produção cultural. Entre os intelectuais que colaboram com o CRIATIVOS!, estão nomes como Antônio Cícero, filósofo e poeta, e Carlos Nobre, renomado ecologista.


Parcerias Institucionais: Apoio e Expansão Global

Para realizar essas atividades e promover a economia criativa de forma sustentável, a Cedro Rosa Digital conta com o apoio de diversas instituições. Entre os parceiros estão a UFCG (Universidade Federal de Campina Grande), que colabora no desenvolvimento da plataforma CERTIFICA SOM com o uso de inteligência artificial; a EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), que oferece apoio tecnológico; e o SEBRAE, que auxilia em estratégias de gestão e empreendedorismo.


Além disso, a Cedro Rosa participa de feiras internacionais e simpósios, com apoio da APEX-Brasil, promovendo a exportação de cultura e criando pontes com mercados como China, Dubai , Cuba e Lisboa.

Essas parcerias fortalecem a atuação da empresa e garantem que os criadores brasileiros tenham oportunidades globais, promovendo, assim, a inclusão e a diversidade de pensamento.


A economia criativa, aliada ao desenvolvimento sustentável, é um dos caminhos mais promissores para um crescimento inclusivo e equilibrado. A atuação da Cedro Rosa Digital, por meio do CERTIFICA SOM e do portal CRIATIVOS!, reflete o compromisso com a diversidade, a equidade e a valorização do talento humano. Com o apoio de instituições públicas e privadas, a Cedro Rosa está contribuindo para um ecossistema mais justo e inclusivo, onde a cultura e a criatividade têm papel central no desenvolvimento socioeconômico.


Para saber mais sobre os projetos e explorar o vasto repertório da Cedro Rosa, visite Cedro Rosa Música Online e confira o portal CRIATIVOS!.

Posts Relacionados

Ver tudo

4 Comments


leticiarr2002
Sep 25, 2024

ebaa

Like
leticiaaa
leticiaaa
Sep 25, 2024
Replying to

legal!


Like

leticiarr2002
Sep 25, 2024

😁

Like
leticiarr2002
Sep 25, 2024
Replying to

😣

Like

+ Confira também

Destaques

Essa Semana

bottom of page