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Foto do escritorLéo Viana

APAGÃO




Na minha limitada compreensão das coisas, adotei as sábias palavras do Sergio Rodrigues em um artigo nesta semana que passou, na FSP: passei da “ignorância total” para a “ignorância parcial”, sem ter jamais a pretensão de avançar além disso, ainda que novos conhecimentos sejam incorporados. Com essa leitura, entendo que a humanidade, ou melhor ainda, setores da sociedade, partes da humanidade, passam muitas vezes por “apagões ético-morais”. Com esse monte de vírgulas fica mais difícil de compreender, mas vamos lá.


Não vamos, claro, aprofundar nas diferenças entre moral e ética, tão caras a estudos de Filosofia. Vamos generalizar, pra facilitar a tantas ignorâncias que nos cercam a todos. Inclusive as nossas próprias. Também não vamos ao fundo da discussão de padrões morais ou éticos variáveis. A maior parte das pessoas não entende nem crase e tem muita dificuldade com interpretação de texto.


Mas vamos a uma pequena reflexão.


Li nos últimos dias o corajoso e inquietante livro da escritora e editora Vanessa Springora, (O Consentimento, Ed. Verus, Tradução de Maria Alice Araripe de Sampaio Doria). Vanessa foi a musa adolescente de um famoso escritor francês que explorava, em seus escritos, as relações que mantinha com meninos e meninas. Aclamado pela crítica e pouco criticado por seus pares à época (final dos nos 60 e início dos 70), ele também escrevia sobre outros temas e fez grandes ensaios em francês, mas se notabilizou pelas publicações autorreferentes, em que descrevia em detalhes relações diversas com menores, a iniciação sexual de vários e várias e, inclusive, viagens ao oriente especificamente para este fim, num evidente e aético turismo sexual pedófilo.


Algumas poucas vozes dissonantes chegaram a ser fortemente reprimidas nos meios intelectuais. Somente muitos anos depois foi reconhecida a justeza das críticas e a sociedade literária fez um tipo de mea culpa. Como resultado, o escritor será julgado por estes dias, aos quase 84 anos.


Um dos casos mais emblemáticos, conhecidos e explorados desse tipo de apagão está, claro, na Alemanha nazista. Gente comum, movida por um sentimento de depressão pós derrota na Primeira Guerra agravado pela crise econômica e liderada pelo magnetismo pessoal de Hitler, tornou-se monstruosamente amoral e contribuiu fortemente para eventos dramáticos como a Noite dos Cristais e a sistemática delação de judeus, encaminhados, como sabemos, para os terríveis campos de concentração. Obviamente havia vozes discordantes, mas não era um momento favorável para que elas fossem ouvidas. Algumas delas foram silenciadas do mesmo modo que os perseguidos descendentes de Abraão.


Os americanos, cujos apagões, em que pese o sucesso econômico e militar, têm se sucedido ao longo da história com impressionante frequência, apoiam majoritariamente um inclemente bloqueio a Cuba, um país pequeno e pobre, atualmente em desalinho com as grandes potências militares e incapaz de ameaçar mesmo a segurança de um subúrbio de Miami. Em simultâneo, pela economia, vibram com as pujantes relações com os príncipes sauditas, misóginos pela própria natureza e dados ao assassinato seletivo de jornalistas, por exemplo. E, numa demonstração de insanidade coletiva, fizeram Trump suceder Obama.

Nem é preciso muito pra saber aonde quero chegar. Aqui em Pindorama, a sociedade que inspirou Casa Grande e Senzala, Raizes do Brasil e O Povo Brasileiro, dos geniais e atemporais Gilberto Freyre, Sergio Buarque e Darcy Ribeiro, tem o apagão quase como regra. Claro que criou um sem número de coisas sensacionais. E se eu só me referir à cultura e à festa, uma das principais atividades econômicas e integradoras da humanidade, o mundo não teria o samba, a bossa nova e a capoeira se o encontro entre sociedades diferentes não tivesse ocorrido aqui. Assim também o forró em suas variáveis diversas, os diversos folguedos de boi, instrumentistas geniais, carnavais incríveis.


De verdade mesmo, sob o ponto de vista político, esta sociedade nem teve muitas oportunidades para escolher seus caminhos. Passou 400 anos sob jugo português e diversos dos demais anos sob ditaduras mais ou menos sangrentas, conforme o caso. Em um pequeno momento de sua história, sempre entendida pelo mundo como pacífica e bem resolvida (sabem de nada os inocentes mundo afora...), tornou-se uma sociedade invejada por conseguir combinar, sob um mesmo guarda-chuva, crescimento econômico, desenvolvimento humano, sol, praias, Amazônia, liderança sensível e reconhecida, agricultura moderna, festa, diplomacia madura, indústria, enfim, a receita ideal para chegar ao mundo dos desenvolvidos.


Verdade que também se mantiveram alguns dos defeitos históricos mais marcantes. O compadrio, a corrupção, o patrimonialismo e o coronelismo, dentre outros, são males internos que se revolvem em governos de qualquer cor. A casa grande e a senzala punham a prova suas eternas diferenças. A agricultura tida como modelo avançou sobre os recursos naturais, destruiu florestas, aldeias, rios. As cidades festivas são centros de cultura da violência e da segregação social. A energia tida como limpa tem efeitos colaterais terríveis para muitas populações.


Quando chamada a opinar sobre seu próprio futuro, manifestou-se outra vez o grande apagão. E a sociedade mais querida do mundo, aquela do futebol bonito, aquela do mulato inzoneiro, aquela da garota de Ipanema, mostrou a sua pior face. Ante os olhos incrédulos do mundo dito civilizado, preferiu o atraso, a misoginia, o racismo, a homofobia, o fundamentalismo religioso, a indigência intelectual, o militarismo. Apertou 17.

Havia – e ainda há!! - vozes dissonantes, não restam dúvidas. Inclusive aumentando cada vez mais, para minha particular alegria e da totalidade dos sensatos. Mas o erro já foi cometido.


Apagões ético-morais não são privilégios nossos. Ocorrem no mundo todo, em sociedades com histórias mais longas, democracias mais consolidadas, instituições mais sólidas, economias mais fortes, educação e ciência mais pujantes.

O problema, pra nós, é que eles têm os elementos pra corrigir os erros.


A gente, errando assim, periga não chegar nunca a ter.


 

Acontece na Internet



Cantoras Maravilhosas



Playlist de MPB



Fernanda Morais canta Santa Cecilia, de Marceu Vieira e Tuninho Galante.


 

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