“A LIÇÃO DO TEMPO”
Tomava um cafezinho no Caruso, sentiu a mão em seu ombro e ouviu: “Lembra de mim?”. Virou-se e viu um rosto envelhecido que o encarava com certa simpatia. Procurou na memória fotográfica, mas não conseguiu associá-lo a algum amigo ou conhecido no passado, a algum acontecimento recente. O outro, sentindo seu desconforto, quis ajudar: “Carlão, o Carlão da República”.
Buscou novamente auxílio na memória e encontrou, uns sessenta anos atrás, escondido num cantinho, já que não tinha mais nenhuma importância, o terror das brigas de turma, o namorado daquela menina que “passou cheia de graça” e de cujo nome não se lembrava mais. O idoso estendeu sua mão num gesto de cordialidade contrapondo aquela que há muitos anos o ameaçou com uma porrada.
As duas turmas se encaravam separadas por metro e meio. Uns quinze de cada lado. Os mais fortes na frente, os franzinos, atrás. Estes, os que mais xingavam e desafiavam os oponentes: ”Podem vir! Não são de nada! Vão levar porrada!”. Geralmente é assim: os mais fracos são os mais folgados. Brigas de turma sempre houve em Copacabana pelas mais variadas razões. Alguém vê o que não devia e conta o que não devia para quem não devia.
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A moça passou, “olha que coisa mais linda cheia de graça”, e ele falou baixo, mas de maneira que ela ouvisse: “Adriana”. Ela parou surpresa e desconfiada: “Sabe meu nome?”. Sabia. Aliás, sabia nome, endereço, religião, melhores amigas, time de futebol, nome do namorado... Depois que a viu na praia, não conseguiu esquecê-la. Procurou informações e, de repente, tinha um dossiê de fazer inveja ao SNI. Conversaram um pouco, contou algumas histórias, elogiou-a de todas as maneiras e conseguiu seu telefone.
Não chegou, porém, a ligar porque, à noite, o valentão, acompanhado da sua turma, apareceu na esquina ameaçando: “Vou quebrar a sua cara! Nunca mais vai mexer com a mulher dos outros!”. De início, não entendeu: era a mulher dele ou a dos outros? A mulher dele era dos outros? A eterna armadilha da língua portuguesa! Deixou, porém, a dúvida para depois, porque ele estava ali, à sua frente, com um metro e oitenta de músculos e dois quilos de merda na cabeça. Sabia que ele não estava defendendo a honra porra nenhuma: queria, sim, se exibir, mostrar que sabia brigar, que ele era o fodão da área. As duas turmas se encaravam, esperando o primeiro soco para se espancarem até conseguirem provar alguma coisa que não sabiam muito bem o quê. Tentou explicar que não tinha paquerado ninguém, mas não foi ouvido, já que, para o valente, o que importava era a briga, sua fama correndo pelas ruas do bairro.
A turma dele era formada de garotões de beira de praia, alguns frequentavam academias de lutas, outros fumavam aquela erva que os transformava em verdadeiros Hulks. Olhou para os amigos: estudantes metidos a intelectuais, frequentando o Paissandu para assistir aos filmes do Cinema Novo e o Teatro Opinião para ouvir Zé Kéti, Nara e João do Valle. Depois, porres homéricos no Beco da Fome, numa discussão eclética que ia de Gláuber, passando pela passeata da UNE, pela última escalação do Flamengo e pelo tesão por uma ou outra menina da rua.
Não havia escapatória. A tensão aumentou, muito por causa dos franzinos que, histericamente, instigavam os mais fortes: ”porrada! porrada!”. A gritaria, porém, alertou os moradores, um deles policial da décima-terceira, que desceu para a rua de pijama e chinelo e, com a voz de autoridade e o trinta e oito na cintura, terminou com a confusão: “Vão brigar na puta que os pariu!”, “Vou levar todo mundo preso!”, “Minha mulher quer ver a novela em paz, porra!”.
O valente e sua turma fizeram meia volta volver e se dispersaram sorrateiramente: manda quem pode, obedece quem tem até mesmo pouco juízo! De longe, Carlão vaticinou: “Não vai ficar assim não! Ainda vamos nos encontrar novamente!”.
E não é que ele acertou: estavam frente a frente sessenta anos depois! Agora, porém, a idade criou um novo clima entre eles, talvez até uma certa cumplicidade. O tempo: o eterno conciliador! Apertou a mão estendida e pareceu ver nos olhos do outro um arrependimento e um pedido de desculpas.
Conversaram um pouco e, ao se despedir, não se conteve: “Carlão, e a menina? A namorada? Casou com ela?”. Ele perguntou: “Quem?”. “Aquela da briga. Como era mesmo o nome dela?”.
Carlão franziu a testa tentando lembrar, balançou a cabeça e Adriana sem nome, “a coisa mais linda mais cheia de graça”, se perdeu na lembrança de dois idosos que se despediram em paz.
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