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Foto do escritorCarlos Fernando Gross

A Era dos Vargas

Carlos Fernando Gross, para CRIATIVOS!



O que realmente aconteceu em Março de 1964? Teria havido um golpe antidemocrático da direita militar ao velho estilo latino-americano ou, quem sabe, um contragolpe preventivo a fim de evitar movimento de esquerda castrista e antiamericano?


Representa a derrubada de um presidente incompetente e politicamente inviável, ou será que falamos de ressentimentos bem mais antigos, de medos seculares fundados em hegemonias regionais que remontam à nossa independência?

No final da década de 1920, Getúlio Vargas consegue unir as facções que guerreavam na política gaúcha desde 1890 e candidata-se à Presidência da República com o apoio dos jovens tenentes do exército brasileiro, com seus ideais democráticos e nacionalistas. Derrotado nas eleições pelo esquema político que governava o Brasil há 40 anos, revolta-se e toma o Rio de Janeiro e o poder de assalto.

Finalmente os gaúchos e seus lenços vermelhos, que lembravam os Colorados uruguaios, os Farrapos e a bandeira de Artigas, amarravam seus cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, e chegavam ao poder. Um novo ciclo político começava e rapidamente Getúlio consolidou-se governante, derrotando a reação paulista em 1932 e rompendo logo depois com os tenentes do exército que o apoiaram. A radicalização política mundial entre esquerda e direita no período entre as duas grandes guerras levou a tentativa de golpe comunista em 1935 contra Getúlio, liderada pelo tenente Luiz Carlos Prestes; ao golpe fascista de Getúlio em 1937 e à tentativa radical de derrubar o governo em 1938. Em 1945, os tenentes, agora generais e oficiais de patente mais graduada, conseguem a sua primeira revanche. O General Cordeiro de Farias, recém chegado da guerra da Itália, vai ao Palácio Guanabara, sede do governo, e avisa a Vargas que ele não era mais presidente. Na eleição de 1945, Eduardo Gomes, líder tenentista, é derrotado por Dutra, aliado de Getúlio, e o regime getulista não sai do poder.

Em 1950, apesar dos esforços contrários dos antigetulistas, Getúlio se candidata e vence novamente os tenentes. Em 1954, sob forte barragem política e enfraquecido, o velho caudilho é deposto e suicida-se logo depois. Os velhos tenentes conseguem assumir o comando do país com Eduardo Gomes, Juarez Távora e Cordeiro de Farias, mas a vitória de Juscelino no ano seguinte frustra seus planos. As tentativas de inviabilizar a posse de JK são impedidas por grupos militares do exército. E assim a política brasileira foi navegando entre o ciclo getulista e aqueles jovens oficiais traídos em 1934. Jânio é eleito com os tenentes, mas, desequilibrado, renuncia e o herdeiro direto de Getúlio, Jango, assume a duras penas e finalmente é derrubado em 1964. Os tenentes, ainda cheios de ideais, agora generais, finalmente vão comandar o país.

A partir daí oficiais do exército ficarão no poder até a saída melancólica de Figueiredo em 1985.

A democracia nunca foi importante nesta seqüência de acontecimentos, aliás nunca foi importante em toda a história brasileira. Importava sim a unidade nacional sempre dependente dos riscos e das fronteiras do Rio Grande do Sul e das tentativas separatistas de 1840. Não importavam as ideologias de esquerda ou direita, e sim a influência dos Farroupilhas que, de uma maneira ou outra - lenços vermelhos do Internacional ou o azul do Grêmio -, governaram o Brasil por 55 anos. A história do Brasil, sempre passou pelos pampas gaúchos e seus valorosos comandantes.

Em 1964 tivemos um golpe contra as instituições e uma revolução política; findava A Era Vargas mas sua influência sobre a nação seria inesgotável.


 

Carlos Fernando Gross é industrial e cronista.