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Foto do escritorLúcia Capanema Alvares

A África não é a Bahia ao quadrado - III




Ansiava pela chegada a Nairobi, cidade próspera, tão grande quanto minha BH, e capital do Quenia, um país economicamente mais bem situado, industrializado e já bastante dedicado ao setor de comércio e serviços. A larga e bem pavimentada rodovia que liga o aeroporto à cidade prenunciava, do meu escuro, outra África. Será bom ver menos pobreza, pensei.


Logo na chegada ao centro, já notava meu engano. Domingo à noite, um giro ao redor do hotel, por entre suas principais ruas, e o esgoto implacável olhando pra toda gente através das enormes valas mal tapadas por placas de cimento. Tapumes impedindo o acesso às calçadas empoeiradas quase jogam o pedestre vala abaixo. Nenhum sinal de varrição urbana, e um pequeno supermercado ainda aberto oferece o mínimo para matar a fome. Nos dias subsequentes entendi que aquele cenário, lembrando os centros comerciais mais baratos da Baixada Fluminense, circundava o elegante hotel cinco estrelas vizinho aos poderes da República. Como exceção ao baixo padrão de urbanização, a largura das avenidas: a Moi Avenue – sim, em inglês (língua oficial do país junto ao Swahili), leva à University of Nairobi, objetivo de toda a viagem.


A caminhada fria da segunda-feira vencia os quarteirões repletos de lojinhas do tipo Mercado Popular Uruguaiana, a meca carioca da falsificação, quando deparei com os Jardins Jeevanjee. Seria como o Campo Grande, de Salvador, ou o Campo de Santana, no Rio de Janeiro, não fosse o número de homens dormindo no seu solo cercado. Uns de terno, outros encasacados, enrolados em cobertores. Muitos, muitos. Pelo menos um para cada três metros quadrados. Aquele mar negro por sobre o chão de terra batida. Dentro do meu peito fez um frio bem abaixo dos 9 graus locais. Firmei os olhos no chão e alcancei a passarela que levava ao campus.

Havia tapete vermelho da entrada policiada até o edifício principal.


A Conferência da Associação Internacional para o Estudo dos Comuns, fundada pela Prêmio Nobel de Economia Elinor Ostrom, seria saudada pelo Primeiro Ministro algumas horas mais tarde. “Teoria sem experiência é fantasia e experiência sem teoria é cega” foi a frase-tom da cerimônia de abertura ao receber o Professor Mordecai Ogada, brilhante ambientalista local, autor de “A grande mentira da conservação”. Sua impressionante palestra chamou atenção para políticas e iniciativas globais colonialistas e nocivas à África, como as relacionadas ao sequestro de carbono e aos bitcoins. Ponto alto do evento, a presença luminosa da jovem antropóloga Milka Chepkorir, representante dos povos originários dos Montes Cherang’any e ativista dos direitos humanos e ambientais. Seu relato sobre as repetidas violências sofridas pelo povo Sengwer, em especial suas mulheres, levou à comoção o auditório lotado.


Me certifiquei da importância da Conferência “The Commons we want” se realizar ali, no seio da luta anticolonial. Porque “Os comuns que queremos” são espaços de produção e reprodução livres de hierarquias, são processos de comonalidade baseados na igualdade e na diversidade, são decoloniais na essência. Ainda assim, a colonialidade está presente. O projeto luminotécnico do belo auditório, equipado com tecnologia europeia de ponta, privilegia os brancos ao iluminar-lhes a face por cima, o que não funciona para os rostos negros, que ficam sombreados a ponto de não podermos discernir seus traços. Depois de cinco dias intensos a dupla da Universidade Oeste da Cidade do Cabo, Ruth Hall and Moenieba Isaacs, foi escalada para o fechamento. Ruth, branca, controla o tempo da colega aborígene, lhe fala fora do microfone. Moenieba se irrita, dispensa bruscamente o roteiro escrito e desabafa: “Ela me manda calar, mas não me calo. Diz que preciso terminar, mas eu ainda não terminei”.


Nos breves passeios ao norte da Universidade em busca de restaurantes, o contraste se faz presente mais uma vez: desde o suntuoso hotel Fairmont Norfolk, em estilo inglês e com diárias entre três e sete mil reais, até o Beit é Salam, bar “oásis no coração de Westlands, um espaço cosmopolita onde pessoas afins se reúnem”, segundo o site EatOut. Oásis de pessoas afins.

As pessoas não afins estão empilhadas nas favelas descomunais que ladeiam as rodovias. Descomunais em seu tamanho de perder de vista, em sua miséria de perder as esperanças. São centenas de não afins adultos e crianças por quilômetro, buscam desesperadamente e aos borbotões um transporte para o trabalho em frente às tendas que vendem verduras e frutas quase podres. Atrás delas, a planície de lonas que servem como moradia, à semelhança de um acampamento ou ocupação em seu primeiro dia: não há ligações de água, esgoto, eletricidade; não há sinal de qualquer serviço público. Aqui, como em Maputo, os ônibus velhos e grafitados circulam superlotados, portas abertas, paradas incertas na poeira.


Me pensava de certa forma habituada a testemunhar a miséria presente em nossas favelas, tendo frequentado tantas em trabalho voluntário e depois profissional. No dia seguinte ao “passeio” pela rodovia A104, me surpreendi em lágrimas. Uma vontade imensa de voltar para casa, de não mais ver pelas lentes da pobreza mais profunda como funciona a humanidade.

 

Economia Criativa, Música, Trabalho e Renda


Estudos divulgados pela UNCTAD - Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento - o Creative Economy Outlook de 2022, aponta que a participação da economia criativa é de 3,1% no PIB global, com quase 50 milhões de empregos gerados, correspondendo a 6,2% dos empregos no mundo.


Música e Direito Autoral



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