A África não é a Bahia ao quadrado – II

A Tanzânia é a imensidão - o que não pude perceber quando cheguei no pequeno aeroporto de Arusha, o Kilimanjaro International; naquele momento a escuridão e o letreiro luminoso ao fundo, os funcionários da imigração e a ideia de uma língua absolutamente desconhecida me causavam um frio na espinha aventureira. Tudo era um grande mistério. A cidade, a cerca de uma hora de carro, bastante simples e de tamanho médio, orgulha-se de ser o ponto médio entre o Cairo e Johannesburgo na larga e portentosa rodovia Transafricana: são 5.000 km em cada direção. Para além das suas margens, o contraste da falta de infraestrutura. Ruas de terra, esgoto e lixo abrigam meu boutique hotel em meio a imóveis muito pobres, o que surpreende os europeus. Reajo: “para mim a surpresa é que não haja assaltos nem violência”, chamando atenção para a passividade diante da infame distribuição de renda. Na verdade, não surpreendia, pois a fé muçulmana dominante assim determina.
De saída para o Parque Serengeti, visual e literalmente ‘planície sem fim’, nossa van (uma daquelas Toyotas beges 4 x 4 de carregar gringos fantasiados de safari) cruza os campos Maasai, algo como o cerrado e a caatinga quando se encontram, fazendo-me reviver as imagens do agreste baiano. Um povo belíssimo, elegante, com seus tecidos xadrezes que desconhecem costuras: o vermelho e preto, o amarelo e preto, o verde e preto, o fúcsia e preto...
Sobrepostos, abraçam aquelas figuras inconfundíveis no horizonte. De uma pobreza digna, milenar, tais como nossos povos originários em suas ocas, apesar de serem também vítimas das doenças ‘civilizadas’. Pastores espalhados em pequenas comunidades por um grande território, não comem folhas pois foram dadas por Deus aos animais e não se convertem ao Islã ou ao fundamentalismo evangélico que agora grassa no leste africano, já que ambas religiões vieram com invasores mais contemporâneos. Causa revolta sua remoção forçada dos parques que habitam desde o neolítico para a preservação da natureza, argumento das autoridades nacionais do meio-ambiente. Em sentida solidariedade, prometo ao nosso guia Maasai a divulgação da sua luta (https://www.rainforest-rescue.org/petitions/1242/tanzania-stop-the-eviction-of-the-maasai-from-ngorongoro).
Vale acima está a cratera Ngorongoro (‘ingôro-ingôro’), onde você tem certeza que nasceu a humanidade: uma paz, uma profundidade, uma majestade em enevoados azuis e verdes perfazem a imensa perfeição do paraíso. O sonhado Serengeti é exatamente o que se espera, com leões, leopardos, girafas e elefantes nos mostrando como somos insignificantes. Eles nos veem e passam altaneiros à frente, ao lado, por trás. Acho que não cheiramos apetitosos e, antes isso, não parecemos ameaçadores. Pelo menos em sua casa protegida por lei.
Nas bordas do parque, mais uma contradição. E as contradições incomodam. As hospedarias de estilo rústico mas de um luxo surpreendente recepcionam os hóspedes a la século XIX, com uma fila de serviçais a postos. Serviçais Maasai. Cabeças baixas, colonizados, prestimosos. Os modos europeizados, do linho à água requentada manualmente na hora do banho, do pequeno espetáculo de dança e música pretensamente tradicionais à falta de tempero. Aqui o sal é pouco, não se come alho e não se sabe o que é o dendê. Tudo incomoda quando volto às mazelas humanas.
Tanzania é a composição de Tanganyika e Zanzibar, união política realizada em 1964. Já a pequena Zanzibar povoa nosso imaginário desde 1980, quando Fausto Nilo nos brindou com o azul de Jezebel no céu de Calcutá. Ambas referências igualmente vívidas nas hereditariedades árabe e hindu que se misturam aos povos originários na culinária e na arquitetura. Na capital da ilha, Stone Town, algumas poucas ruas e praças de estilo europeu se alinham à costa, seus belos edifícios deixam à mostra um passado grandioso e já multicultural: são fortes, igrejas, escolas, sedes governamentais; à medida que adentramos a cidade, as vias vão se tornando tortuosas e pobres. Menos turistas e mais mulheres e crianças muçulmanas. O contraste entre o clima quente, o mar de um azul-esverdeado único e as burcas escuras sobre batas que recobrem os corpos negros outrora nus e livres incomoda. A miséria encoberta desde a infância.
A luta pelo transporte para outras cidades é retratada na Dala Dala, carroceria pau-de-arara de chita colorida, onde as pessoas se empilham sem poderem ficar de pé devido à altura do teto. Voltei de Matemwe numa dessas; o percurso fica longo com o pinga-pinga e, apesar da dificuldade linguística, percebi o sentimento comunal na espiga de milho assada adquirida do ambulante que passava de mão em mão e me senti aceita quando entre apertos e ajudas mútuas recebi um garotinho dos seus 3 anos no colo para dormir. Comunhão.
Ao vilarejo de Paje se chega pela única via asfaltada e serpenteada que passa há uns 500 metros da praia. Entre elas, ruelas de terra e areia, nenhuma infraestrutura, casinhas muito pobres, muros em ruínas e lixo no meio do mato. Um descampo de futebol, velhos e crianças ao sol. Bem Brasil dos nossos litorais desprovidos. Lá, como aqui, a praia exuberante com seus bares e restaurantes ostenta um padrão proibitivo para os locais. A falta de ritmos, bem como de bebida alcoólica e de alegria, esta que não depende dos primeiros mas que em conjunto com eles entrega momentos memoráveis, denuncia o predomínio religioso fundamentalista.
As muçulmanas por ali oferecem massagens enquanto rapazes estilizados de Maasai oferecem a si próprios. Por toda a extensão da praia, a cada 30 passos, insistentemente e em várias tentativas linguísticas, pobres rapazes. Certamente há quem pague. Não há contradição na profissão mais antiga do mundo, mas a forma humilhante de auto elogiar sua performance entristece profundamente. Soco na cara às margens do mar mais azul que se possa sonhar.
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