MAU
Ele foi o pior vizinho, o pior inimigo, o pior pai, o pior marido, o chefe mais odioso. Vinha assim desde épocas pretéritas, quando seus pares não tinham ainda obtido o sucesso que têm hoje. Era o cara que cortava a bola dos meninos na rua, o patrão que xingava os funcionários, o marido que batia na mulher, o pai que espancava os filhos (mas levava os meninos ao prostíbulo pra perder a virgindade), o que desmoralizava as filhas (e delas cobrava – por vezes violentamente - a virgindade até o casamento, quando passariam a “pertencer” aos maridos), o machão que mexia com as mulheres na rua, o cara que cuspia nos mendigos. Era ele quem ameaçava quem não era heterossexual, não gostava de pretos, detestava índios. Também não aturava professores, “esses manipuladores de crianças e jovens”. Pobres ele ignorava. “Não deviam existir”, dizia. E, em caso de precisão, estaria à disposição para ajudar a terminar com eles.
Não media esforços – nunca mediu – para eliminar obstáculos, especialmente inimigos ou adversários, de qualquer que fosse seu objetivo da hora. Não ria, não fosse da desgraça alheia. E, claro, ria mais, quanto maior fosse o infortúnio. Não gostava de música, a não ser que fosse pra atazanar vizinhos, impedir que festejassem qualquer coisa, que se ouvissem, que fossem felizes. Nessas horas valia qualquer música, desde que muito alta.
Viajou pouco, mas conheceu uns dois campos de concentração nazistas. “Muito organizados, uma beleza!” Também gostava de Barbacena. Lamentava o fim dos manicômios, dos eletrochoques e dos banhos de água gelada no pátio. Do passado recente, queria mais AI-5, mais censura, mais pau de arara, mais telefone, bala de borracha, gás lacrimogêneo.
Café com música - Ouça!
Os americanos, sim. Que beleza, o Vietnam. Napalm. Deu errado no fim, mas aqueles malditos vietcongues aprenderam!
Detestava animais, presos ou soltos, na natureza ou nos quintais. Chutava gatos, envenenava cachorros, apedrejava passarinhos. Durante algum tempo planejou fazer um safári de caça. Só não foi porque a África é a terra dos pretos. Não compensaria o esforço.
Detestava céu azul, chuva, céu nublado. Tolerava o pôr do sol, porque a luz baixava, mas a noite só era boa sem lua. Cidade, detestava. “Gente demais!”. O campo também não agradava. “Bichos, gente caipira”.
Comida? Qualquer, desde que muito apimentada e salgada. “Só serve pra encher a barriga mesmo. Depois vai tudo pro esgoto!”
Quando pôde, se aproximou da milícia. “Gente de bem, querendo fazer o certo!” Na mesma época, se achegou a pastores radicais, de igrejas pentecostais fundamentalistas. “O que falta nesse mundo é doutrina e disciplina!”
Em 2018, outubro, novembro, festejava sozinho quando a casa foi invadida. Vivia sozinho e longe, protegido pelas armas que mantinha em casa. Um arsenal. A milícia tem inimigos do mesmo quilate, dentro e fora. Já tinha bebido. Celebrava a vitória na eleição presidencial! “Um dos nossos!!”. “Acabou a mamata!!” Não teve tempo para reagir.
Românticas - ouça!
Os caras iam atirar direto. A milícia não conversa. Mas também tinham bebido. E decidiram primeiro sodomizar o machão, antes anestesiado por uma coronhada, imobilizado por algemas e calado por uma mordaça apertada. “Ele teria feito a mesma coisa”, disse um deles. Uns tapas na cara, uns chutes na bunda, a consumação do ato sexual forçado, calor, suor e outros fluidos corporais, gemidos de dor.
Um tiro só, no local certo, o meio da testa. Depois viraram o de cujus para a bunda ficar exposta, como um símbolo.
Na mesma noite os assassinos foram assassinados também. História que segue.
O seguro resolveu todos os procedimentos para levar o corpo e fazer o enterro. Ninguém foi, claro.
Dizem que nunca nasceu nem grama em cima.
Rio de Janeiro, dezembro de 2021.
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