A Natureza

Outro dia achei no fundo da gaveta o poema "A NATUREZA'', que escrevi no início dos anos 1980, quando, finalmente, a luta do povo brasileiro contra os horrores da ditadura militar começava a se mostrar vitoriosa.

Relendo os versos, constatei: parece que foi hoje.

JOGARAM ÁGUA NO FOGO

O FOGO NÃO SE APAGOU

A CHAMA ARDEU DIFERENTE

MAS PERSISTIU NO CALOR

A FORÇA DA MINHA GENTE

ESSE ENORME FOGARÉU

É EMPURRADA PRO INFERNO

MAS SOBE QUENTE PRO CÉU

PUSERAM FOGO NA ÁGUA

PRA ÁGUA SE EVAPORAR

VAPOR DE NUVEM DE CHUVA

CHOVENDO VIDA NO MAR

O POVO, RIO DE MÁGOA

VIRA FUMAÇA ESPALHADA

DEPOIS SE JUNTA E EXPLODE

TROVÃO QUE AVISA ENXURRADA

ERGUERAM MUROS PRO VENTO

MAS NÃO CONTARAM COM A SORTE

TUDO RUIU NUM MOMENTO

DEPOIS DE UM VENTO MAIS FORTE

A MULTIDÃO QUE SE AJUNTA

TEM FORÇA DE FURACÃO

DERRUBA MUROS NA LUTA

E SOPRA, VARRENDO O CHÃO

TENTARAM, JURO, TENTARAM

MATAR A MÃE NATUREZA

TENTARAM, MAS ESBARRARAM

NA SUA INFINITA GRANDEZA

MULHER E HOMEM SE UNINDO

AMOR PARINDO BELEZA

É POVO, E POVO É O MAIS LINDO

DOS FILHOS DA NATUREZA

Até a próxima esquina.

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